Ralph Baer era um imigrante alemão, que veio para os Estados Unidos em 1938, aos 16 anos. Sem saber qual carreira seguir, ele se inscreveu em um curso por correspondência de manutenção rádio e televisão enquanto trabalhava de dia em uma fábrica. Depois de concluir o curso, ele passou três anos trocando transistores até que foi puxado para o exército.
Ele então serviu a Inteligência Militar estacionada na França e ganhou uma medalha por isto. Quando ele voltou para os Estados Unidos ele aproveitou para se graduar em Engenharia de Televisores no American Television Institute of Technology. Casou-se dois anos depois, em 1952, mas ainda levaria 10 anos para que ele desse início à sua relação com os jogos eletrônicos.
Ganhou então um emprego como gerente do departamento de design eletrônico na Sanders Associates, uma companhia de tecnologia que fazia componentes usados pelos militares.
Baer então começou a pensar sobre uma forma de desenvolver tecnologia que poderia ser vendida para consumidores comuns e logo ele pensou nos televisores, que estavam vendendo 40 milhões de unidades nos Estados Unidos naquela época. Em uma entrevista em 2007 para o site de games Gamasutra, ele diria:
"Você sabe, eu olhei para o aparelho e disse para mim mesmo, 'O que eu posso fazer com isto?'... Então eu pensei sobre isto e disse, 'Talvez nós pudéssemos jogar'. Bingo. E no outro dia, pela manhã, eu me sentei em meu escritório e escrevi aquele artigo de quatro páginas".O artigo de quatro páginas era o fundamento para o que seria depois a "caixa marrom" de Baer, um aparelho anexado à televisão que ele construiu com o especialista em eletrônica do local, Bill Harrisson, que dava às pessoas controle sobre pontos brancos que se moviam pela tela, controlado por joysticks modelados segundo os joysticks usados por pilotos de aviões da época.
Esta ideia teria sido baseada em um dos dispositivos da Sanders que mostrava um ponto que se movia pela tela de radar para representar o movimento do avião. Baer tomou isto e o transformou na maior gama de jogos possíveis, onde basicamente se tinha um ponto de um jogador perseguindo o ponto de outro. A versão mais popular era uma versão de ping pong que os jogadores moviam um traço vertical e rebatiam o ponto para o campo do adversário.
Quando Baer apresentou o invento ao pessoal da Sanders e as reações foram as mais variadas. Mas ele sabia que tinha algo muito especial em mãos e então levou o invento para o escritório de patentes, onde os inspetores, conhecidos por serem difíceis de se impressionar, sofreram de uma literal paixão à primeira vista. "Dentro de uma hora, [o inspetor] estava jogando", Baer se lembra.
Em 1971 então a caixa marrom de Baer foi licenciada para a Magnavox, que a transformou no Odyssey, o primeiro console doméstico. O aparelho usava os pontos controláveis de Baer juntamente com membranas para serem colocadas diante da tela da televisão, para dar aparência de novos cenários e jogos. Assim o Odyssey vendeu suas 325000 unidades, introduzindo uma nova forma de famílias jogarem unidas. E foi este sistema que chamou a atenção de Nolan Bushnell, criador da Atari, que havia desenvolvido o Pong, uma versão muito idêntica daquele jogo desenvolvido por Baer.
Assim, Bushnell acabou dando um passo a mais na história dos games, enquanto Ralph Baer se contentava em trabalhar em seu laboratório com suas experiências. Em uma entrevista em 2009 com Diehard Gamefan, ele diria:
Para mim, inventar video games foi apenas uma coisa bem sucedida que eu fiz entre muitas outras. [...] Eu considero a mim mesmo um engenheiro e inventor que fez seu trabalho.Baer continuou trabalhando para a Sanders em tecnologias não relacionada a jogos, incluindo tecnologias de laser de alta potência e treinamento e simulação interativo baseado em vídeo. No entanto ele nunca deixou seu lado de jogador, inventando em 1978 juntamente com Howard J. Morrison o aparelho conhecido como Simon, um popular jogo de memória que fazia os jogadores memorizarem cada vez mais complicados padrões baseados em quatro botões coloridos, cada um produzindo um tom musical.
É interessante como Baer se tornou crítico de como os jogos se tornaram violentos nos nossos dias. "Eu acho que é uma desgraça", disse ele à Salt Lake Tribune no último ano. "O que eu criei se tornou abominável. Você pode ver a mesma coisa na música, literatura, arte - qualquer forma de arte". Ele também critica bastante a política de empresas estadunidenses que, no início de 1950, focaram mais em aquisições e exploração de mão de obra barata em outros países do que investir no crescimento interno. Em 2006, as conquistas de Baer na área de games e tecnologia foram reconhecidas quando George W. Bush o recompensou com a Medalha Nacional de Tecnologia.
Aos 90, Baer passa maior parte de seu tempo em sua casa em Manchester, New Hampshire. Ele ainda mantém um laboratório em sua casa, cheio de velhas e novas invenções. Agora suas invenções são para ele mesmo. Muito do que foi dito aqui pode ser visto em seu website também. Mais do que os games que gostamos, talvez este senhor de 90 anos seja também um exemplo de profissional que ama aquilo que faz e faz tudo da melhor forma possível, por que ama aquilo.
Fonte: http://games.ign.com/articles/122/1220015p1.html
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